O comportamento infocomunicacional em tecnologias digitais na Gestão do Conhecimento Pessoal:
desenvolvimento de um modelo descritivo genérico
DOI:
https://doi.org/10.60144/v3i.2022.40Palavras-chave:
Gestão do conhecimento pessoal, Gestão da Informação, Comportamento infocomunicacional, Tecnologias digitais, GadgetsResumo
O fenômeno da utilização de tecnologias digitais (gadgets) para a gestão do conhecimento pessoal contribui para o comportamento infocomunicacional dos indivíduos. Um modelo desta utilização poderá contribuir para ampliar nossa compreensão sobre este fenômeno.
Os Gadgets representam um sem número de dispositivos tecnológicos, podendo ser físicos ou virtuais. Estes podem armazenar e/ou processar dados. Podem, ou não, possuir uma interface de interação com indivíduos (HCI) como botões reais e/ou virtuais, presentes no corpo de gadgets e/ou em suas telas (TOROK, 2016).
Entre os gadgets que apenas armazenam a informação e não possuem interface HCI estão um sem número de pendrives e cartões de memória, dispositivos relacionados à Internet das Coisas (Internet of Things – IoT) para além de outros dispositivos de armazenamento. Por sua vez, entre os gadgets que processam os dados armazenados e possuem interface HCI, estão os computadores portáteis, os telemóveis e smartphones, e dispositivos vestíveis (wearables) como as smartbands e os smartwatches. De outra forma há gadgets virtuais, entre estes as máquinas virtuais, as plataformas como a Google Drive e softwares como Horizon (software para bibliotecas).
Estes gadgets possuem funções geralmente bem definidas: um pendrive foi criado para armazenar e transportar dados, um telemóvel foi desenvolvido para permitir a comunicação entre indivíduos em trânsito. Por outro lado, um pendrive poderá ser utilizado como uma extensão da memória ROM de um computador e um telemóvel poderá ser utilizado como uma console de jogos. Quando estes gadgets são utilizados, com sucesso e frequência, para propósitos distintos dos que foram originalmente projetados, estaremos presenciando o fenômeno da “apropriação” (TCHOUNIKINE, 2017).
Para além do armazenamento e do processamento de dados, estes gadgets possibilitam a transformação de dados em informação. Por sua vez, ao contextualizar essa informação o indivíduo poderá extrair e gerir o seu conhecimento pessoal (HOFFMANN, 2009). Por sua vez, a gestão do conhecimento pessoal (PKM) representa a atividade de trabalhar o conhecimento “armazenado” pelo indivíduo de forma a “tirar partido” deste (FRAND; HIXSON, 1998).
De outra forma, este conhecimento poderá inicialmente apresentar-se numa dimensão tácita, ou seja, dentro da mente do indivíduo e do seu contexto. Por outro lado, os gadgets parecem servir como ponte para a explicitação e a comunicação deste conhecimento (ISMAIL; AHMAD, 2015) que parece retornar para o formato de informação, mas desta vez embebida com a contextualização dada pelo indivíduo. O fenômeno que surge da interação entre a informação e o indivíduo é denominado de comportamento informacional (WILSON, 2000). Por outro lado, este fenómeno parece estar a sofrer modificações com a utilização e a apropriação de gadgets. Esta modificação vem sendo referida na literatura com o nome de “infocomunicação” (COSTA; RAMALHO, 2019).
Posto isto, espera-se compreender como a apropriação de gadgets para a PKM poderá contribuir com o comportamento infocomunicacional. O estudo sobre a utilização e a apropriação de gadgets para a PKM e a contribuição desta para o fenômeno da infocomunicação ganha ainda mais relevância numa sociedade cada vez mais digital, onde os dados, a informação e o conhecimento, migram do suporte analógico para o digital, ou já são criados num formato digital (SCHULL, 2018). Por sua vez, o número de gadgets são cada vez maiores, bem como os tipos existentes.
Para estudar os pontos aqui referidos, este trabalho irá investigar docentes do ensino superior que lecionam em cursos na área das Ciências Sociais. Esta escolha relaciona-se com o fato de o pesquisador estar inserido nesta população e querer conhecer as práticas dos seus pares.
Nesta investigação, será possível recolher dados e informação sobre diversos fatores que contribuirão para compreender os fenômenos de utilização e apropriação dos gadgets, bem como a existência, ainda que inconsciente, da PKM por meio destes gadgets. Entre estes fatores espera-se conhecer quais são os gadgets utilizados/apropriados, como os docentes relacionam-se com estes gadgets, em quais contextos, por quanto tempo, e os intervenientes destas relações.
Este conhecimento será adquirido por meio de ferramentas de pesquisa que se traduzem num questionário, numa entrevista semiestruturada (CASE; GIVEN, 2016) e num diário autoetnográfico digital (ATAY, 2020).
Por fim, por meio da Teoria Fundamentada Construtivista (CHARMAZ, 2006), será possível analisar os dados/informação recolhidos. Esta análise permitirá a criação de um modelo contributivo ao comportamento infocomunicacional por meio da apropriação de gadgets para a PKM.
Os resultados deste trabalho serão úteis, para reduzir as incertezas sobre fenómenos tais como o comportamento infocomunicacional, a utilização e apropriação de gadgets, e a PKM. Apesar do público-alvo desta investigação ser docentes da área das Ciências Sociais, as metodologias aqui utilizadas poderão ser replicadas para outros públicos e contextos.
Downloads
Referências
ATAY, A. What is cyber or digital autoethnography? International Review of Qualitative Research, [S. l.], v. 13, n. 3, p. 267–279, 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/1940844720934373
CASE, D. O.; GIVEN, L. M. Looking for Information: a survey of research on information seeking, needs, and behavior. Somerville: Emerald Group Publishing, 2016.
CHARMAZ, K. Constructing grounded theory: a practical guide through qualitative analysis. Nova York: Sage, 2006.
COSTA, L. F. da; RAMALHO, F. A. Comportamento infocomunicacional: perspectivas sobre definição, práticas e modelos de estudos. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 133-158, maio 2019. ISSN 1980-6949. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1162. Acesso em: 26 abr. 2022.
FRAND, J. L.; HIXSON, C. G. Personal knowledge management: Who? What? Why? When? Where? How? In. Educom 98 Conference, Orlando, Flórida, 1998. Disponível em: https://scholarsbank.uoregon.edu/xmlui/handle/1794/24358. Acesso em: 25 apr. 2022.
HOFFMAN, W. A. M. Gestão do conhecimento: desafios de aprender. Rio de Janeiro: Compacta, 2009.
ISMAIL, S.; AHMAD, M. S. Personal Knowledge Management among Managers: Mobile Apps for Collective Decision Making. Journal of Information Systems Research and Innovation, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 42–29, 2015. Disponível em: https://seminar.utmspace.edu.my/jisri/download/Vol9/FinalPaper6-Vol9Issue1.pdf. Acesso em: 25 abr. 2022.
SCHULL, N. D. Digital containment and its discontents. History and Anthropology, [S. l.], v. 29, n. 1, p. 42-48, 2018. DOI: https://doi.org/C10.1080/02757206.2017.1397654.
TCHOUNIKINE, P. Designing for appropriation: a theoretical account. Human-Computer Interaction, [S. l.], v. 32, n. 4, p. 155-195, 2017. https://doi.org/10.1080/07370024.2016.1203263
TOROK, A. From human-computer interaction to cognitive infocommunications: a cognitive science perspective. In: 7th IEEE International Conference on Cognitive Infocommunications (CogInfoCom), 2016. DOI: https://doi.org/10.1109/CogInfoCom.2016.7804588
WILSON, T. D. Human information behavior. Informing science, [S. l.], v. 3, n. 2, p. 49-56, 2000. DOI: https://doi.org/10.28945/576.
Downloads
Publicado
Como Citar
Licença
Copyright (c) 2022 Dalbert Marques Oliveira, Ana Lúcia Terra, Paula Peres
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Qualquer usuário tem direito de:
- Compartilhar — copiar, baixar, imprimir ou redistribuir o material em qualquer suporte ou formato
- Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial.
De acordo com os seguintes termos:
- Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de maneira alguma que sugira ao licenciante a apoiar você ou o seu uso.
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.