Role-Playing Game na Ciência da Informação

uma história a ser contada

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DOI:

https://doi.org/10.60144/v2i.2021.27

Resumo

O Role-Playing Game na perspectiva da Ciência da Informação, mostrando algumas práticas e tendências de pesquisa sobre a temática.

No início da década de 1970 surgia, nos Estados Unidos, o primeiro Role-Playing Game (RPG) intitulado Dungeons and Dragons (D&D). Devido a popularidade deste jogo, diversos outros foram sendo lançados, trazendo novidades tanto em relação aos cenários quanto aos sistemas de regras (FIGURA 1).

FIGURA 1 - História do RPG: linha do tempo

 
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Fonte: Silva e Silva (2020a)

O RPG chegou ao Brasil nos anos 1980, por meio de estudantes que conheciam o jogo no exterior e o traziam para o país. Anos mais tarde, as livrarias começaram a importar o jogo oficialmente, porém ainda sem tradução. Somente em 1991, sairia a primeira tradução de um jogo de RPG, pela editora Devir (FIGURA 2).

FIGURA 2 - RPG no Brasil: linha do tempo

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Fonte: Silva e Silva (2020b)

O RPG é um jogo de interpretação onde um grupo se reúne para contar histórias de forma colaborativa, utilizando um conjunto de regras pré-definidas, papel, lápis, alguns dados e, principalmente, a imaginação. Um dos membros do grupo é escolhido para ser o narrador (mais comumente chamado de mestre), que é aquele que vai guiar os demais jogadores pela história.

Durante muito tempo, este foi um jogo visto como mais uma atividade de adolescentes, porém, com o passar do tempo, diversas áreas começaram a lançar seu olhar para ele. A Educação, aqui no Brasil, foi a que mais desenvolveu estudos e práticas sobre o RPG como, por exemplo, o trabalho de Zamariam (2016), em que ela propõe o uso do RPG como alternativa metodológica para o ensino da literatura literária nas aulas de língua portuguesa. Outro trabalho que merece destaque é o de Pavão (2000) que tenta compreender os processos de leitura e escrita de mestres de RPG. Além destes, outros trabalhos foram desenvolvidos no ensino de diversas áreas como, por exemplo, a Sociologia (GARCIA, 2019) e a Física (NASCIMENTO JÚNIOR; PIASSI, 2015).

No ano de 2002, foi realizado em São Paulo o I Simpósio de RPG e Educação que tinha como objetivos responder o que é o RPG, porque usá-lo como ferramenta pedagógica e como utilizá-lo na educação (ZANINI, 2004, p. 4). Este evento foi um marco para o RPG na área da Educação, pois se tratava do primeiro voltado para esta temática.

A Ciência da Informação demonstra uma preocupação com diversos contextos (científico, social, econômico, tecnológico e político), preencher a lacuna teórica no estudo do uso de informação em cenários do cotidiano é um desafio, já que a natureza deste tipo de estudo é diferente da vista nos mais formais (SERAFIM; FREIRE, 2015). Para os autores, o cenário do cotidiano é aquele ligado ao lazer, já os mais formais são os acadêmicos e os profissionais. Porém, a realização de estudos sobre o cotidiano não significa que os modelos já existentes precisam ser eliminados, mas sim que é necessária uma complementação.

Observando este cenário, diversos estudos sobre o RPG são possíveis como, por exemplo, trabalhando com a comunidade deste hobby e sua interação com a informação (COSTA, 2019), o uso deste jogo na gestão da informação (NUNES, 2004), ou ainda como recurso de ação cultural em bibliotecas e outros espaços informacionais (VELOSO, 2019).

Na prática, existem algumas bibliotecas que já utilizam o RPG, sendo em seu acervo ou em ações culturais realizadas em suas imediações. A Biblioteca Pública do Paraná (BPP) abre semanalmente, desde 2013, para grupos que queiram jogar RPG e mantém um projeto chamado “Sábado Lúdico” voltada para crianças de 06 a 12 anos e que acontece na Seção Infantil da BPP, oferecendo uma programação com “[...] atividades que contribuem para a socialização e estimulam a imaginação dos participantes por meio de jogos de tabuleiros, card games e RPG” (GROSS, 2019). Em 2018 a Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte realizou um evento de RPG e, também, possui diversos materiais de RPG em seu acervo.

Silva (2020) revela em sua revisão bibliográfica do tipo scoping review como a Ciência da Informação tem compreendido o RPG. Os principais resultados mostram que apesar da pouca exploração dessa temática na Ciência da Informação, a área tem visto o RPG como uma ferramenta interessante para se aplicar de forma educacional (KREISMANN CARTER, 2004; COPELAND et. al., 2013; ZEREGA-GARAYCOA, 2015), e o mais recorrente em atividades culturais nos espaços de informação (BROWN; KASPER, 2013; WASILEWSKA, 2017). A nuvem* de palavras** das temáticas mais frequentes (FIGURA 3), extraídas de 21 artigos com a temática do RPG, publicados em revistas da Ciência da Informação e que foram recuperados nas bases BRAPCI, LISA e ISTA, mostraram algumas tendências de interesse no tema.

FIGURA 3 - Nuvem de Palavras: Temáticas relacionadas ao RPG na CI

 
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Fonte: Elaboração própria.

A autora conclui que a “aplicação do RPG na Ciência da Informação ocorre em sua maioria como propostas ou relatos de programações em bibliotecas, seguido por dicas para criação de coleções e aplicações deste jogo como ferramenta educacional [...]” (SILVA, 2020, p. 67).

Como é possível perceber, são diversas as formas de se trabalhar com o RPG e de utilizá-lo e não apenas em ações culturais em seus diversos ambientes, mas também na formação de pessoas, bem como na atualização ao longo da vida. A Ciência da Informação ainda está começando a se apropriar da temática e existe um potencial a ser explorado.

 

* A nuvem de palavras foi construída utilizando o Infogram (https://infogram.com/).

**As palavras foram padronizadas de acordo com o Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação (TBCI), porém esta ferramenta não se mostrou suficiente sendo necessária, portanto, a criação de diversos termos adicionais.

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Referências

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Publicado

2021-04-17

Como Citar

Silva, G. P. da . (2021). Role-Playing Game na Ciência da Informação: uma história a ser contada. Ciência Da Informação Express, 2, 1–7. https://doi.org/10.60144/v2i.2021.27

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Seção

Artigo de comunicação

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